Quando se fala sobre desenvolvimento infantil chama a atenção de todos, principalmente de pais e professores.
Nas edições anteriores, foram descritos sobre os dois primeiros períodos: Primeiro Ano de vida e a Primeira Infância (de um ano a três anos). Neste momento, o tema segue as discussões sobre desenvolvimento, correspondente ao período das aprendizagens que antecedem o aprender a ler e o escrever, um período de transição, no qual a complexificação já alcançada na formação cultural da criança, direcionando as bases para uma nova mudança, tanto em suas relações sociais quanto na atividade orientadora do desenvolvimento.
Nesse novo período de transição, a atividade de jogo ou brincadeira de papéis sociais é a ação principal do desenvolvimento infantil até que se atinja a idade escolar. Conforme a Psicologia Histórico-Cultural nos apresenta, a concepção de criança é determinada de forma histórica e cultural, compreendemos que o desenvolvimento psíquico, em seus diferentes períodos, deve ser tratado na sua totalidade, considerando as modificações internas que ocorrem no desenvolvimento da criança em cada idade, em conjunto com as modificações concretas de seu entorno histórico-cultural.
Nesse contexto, a idade pré-escolar ou infância pré-escolar, corresponde ao período do desenvolvimento infantil, que se estende dos três aos sete anos e se configura como um período em que a criança se encontra em uma nova situação social de desenvolvimento. Todas as transformações físicas, resultantes de intensa maturação do organismo, possibilitam maior independência, com maiores possibilidades na relação com o meio e com a realidade concreta.
A atividade principal, nesse período, é o jogo ou a brincadeira de papéis. A brincadeira ou o jogo acontece quando emergem nas crianças desejos que não podem ser realizados no momento e/ou devem ser esquecidos, mas que são efetivados por meio da brincadeira, que é a atividade por intermédio da qual a criança vivencia o mundo dos adultos, usando a imaginação para fazer o que não pode fazer na vida real.
As brincadeiras de faz-de-conta são condutoras de aprendizagem, pois a criança busca os significados já vivenciados no seu dia a dia e cria outros, quando a situação no brincar assim o exige. A condição da criança de substituir um objeto por outro possibilita a representação de papéis, configurando a aprendizagem e o domínio dos signos sociais e, futuramente, a condição de aprender a ler e a escrever com mais facilidade. O jogo é um fator muito importante para o desenvolvimento. Nele, formam-se muitas particularidades psicológicas; pelo jogo, a criança inicia a aprendizagem da ética, da moralidade e da justiça.
Nessa fase, a criança consegue expor o que deseja, esperar e submeter-se às exigências do adulto; realiza tarefas que lhe são desagradáveis, mas necessárias, para cumprir algum objetivo na brincadeira. Na idade pré-escolar, começam a se formar, na criança, os modos de comportamento em formas simples, como ajudar e se interessar pelas atividades dos adultos. Tais atitudes desempenham um importante papel, não só na formação da consciência, em relação ao significado das tarefas, mas, também, na organização das suas atividades, no sentido de satisfazer as suas necessidades.
Quanto mais enriquecida for a educação infantil, com objetivos de ensino, com atividades que promovam as máximas potencialidades humanas, com conteúdo e metodologias variadas, diversificadas e contextualizadas, tornando a prática pedagógica um espaço que represente apropriação de mais conquistas humanas, produzidas no decorrer do desenvolvimento, maior será o desenvolvimento da criança, com mais chances de aprendizagem. Um exemplo de enriquecimento são as brincadeiras, o desenho livre, pois estão embutidos muitos aprendizados que ofereceram significados à atividade da criança. Os desenhos infantis sinalizam o início da escrita, pois desempenham um passo entre o gesto e a escrita. O desenho ocupa o lugar da palavra e alguns rabiscos gráficos são incorporados nas tentativas de escrita da criança.
Ao ingressar na escola, a maioria das crianças deseja estudar e, para elas, o processo de estudo tem como sentido amplo a aprendizagem e a execução das obrigações da escola. Assim, com o ingresso na escola, o interesse pelo jogo vai reduzindo, propiciando lugar ao estudo. Os autores desta abordagem de estudo destacam que, o estudo começa pela brincadeira na pré-escola. A criança brinca de estudar e o estudo, para ela, é uma espécie de jogo com determinadas regras, assim, vai se apropriando, sem perceber, dos conhecimentos e, aos poucos, influenciada pelo adulto, vai mudando de atitude, de maneira que o estudo se torna algo desejado, ampliando sua capacidade de estudar.
Então, o estudar torna-se interessante para ela, pois vai ao encontro de sua nova atividade, ao período de desenvolvimento corresponde à idade escolar de sete a doze anos, assunto da próxima edição.
Matéria por
Marli Cabrera Soares
Psicopedagoga ABPp 13280 | Campo Mourão